Crise muda filosofia do atleta
Cada vez mais esportistas buscam ajuda profissional para administrar a vida financeira
O momento econômico do país não é dos melhores e a instabilidade financeira atinge pessoas de todos os setores, até mesmo os esportistas. Apontados como parcela abastada da população, eles também estão atentos à crise e, a cada dia, têm procurado mecanismos para controlar as finanças, além de buscar, quando possível, oportunidades certeiras de investimento. No meio, já há consenso de que, como a carreira de um atleta é curta, não é recomendável gastar indiscriminadamente, sob risco de terminar, como alguns, sem nada.
“Quanto menos você errar nesta área, melhor. É preciso poupar e planejar bem, chegar ao fim da carreira bem estruturado e com uma estabilidade financeira capaz de garantir o futuro”, afirmou o zagueiro Léo, do Cruzeiro, um dos atletas que procurou o auxílio de uma assessoria jurídica e financeira para gerenciar seus ganhos com o futebol.
“Quando eu mudei de clube, precisava de um serviço mais presente de contabilidade. Conversei com o Tinga e ele me apresentou uma empresa que poderia me ajudar nessa pendência”, conta o defensor celeste. “As pessoas acham que jogadores de futebol ganham rios de dinheiro, mas esses atletas milionários são a minoria”, completa Léo.
Outro que optou pelo serviço foi o lateral Danilo, grande destaque do título mineiro conquistado pelo América nesta temporada. “Chega uma hora em que você precisa administrar o que ganha e fazer com aquele dinheiro dê retorno”, explica. “Resolvi seguir o conselho dos meus pais, da esposa e do empresário. É preciso saber aproveitar a carreira”, complementa o jovem jogador.
Consultoria. Atualmente, o responsável por assessorar Léo e Danilo é o consultor financeiro Marcelo Claudino, presidente da TopSoccer, empresa especializada no atendimento a atletas – e que conta com outros grandes nomes do futebol, casos de Everton Ribeiro e Ricardo Goulart, ambos ex-Cruzeiro, além do técnico Marcelo Mendez, do vôlei multicampeão do Sada Cruzeiro.
“A cada dia percebemos que a mentalidade dos atletas melhora. Eles têm consciência de que são um grupo bastante seleto em um país com uma carga tributária altíssima. Por isso, pensando a longo prazo, acumular patrimônio é muito importante”, analisa o consultor financeiro, que também explica como é a metodologia de trabalho da empresa.
“No planejamento do jogador, buscamos uma maior rentabilidade, levando em consideração as consequências jurídicas, contábeis e fiscais. Dessa forma, ele pode obter ganhos duradouros com riscos minimizados”, diz.
Porém, como Marcelo faz questão de frisar, a decisão final será sempre do atleta. “São eles (atletas) que decidem, até porque muitas destas escolhas passam por questões pessoais e sentimentais”, finaliza.
Receita fecha cerco a sonegadores no meio esportivo
Neymar é um dos jogadores mais ricos do futebol mundial e grande craque da seleção brasileira, mas nem toda sua fama garantiu “refresco” com a Receita Federal. O jogador foi considerado culpado por sonegação de Imposto de Renda de Pessoa Física, fraude e conluio, o que fechou ainda mais o cerco da Receita Federal aos rendimentos dos atletas.
“De 2013 a 2015, mais de 200 atletas foram multados pela Receita Federal, chegando a um montante de R$ 381 milhões em autuações. Com certeza, o caso Neymar trouxe mais repercussão para este problema, uma vez que a Receita entende que os atletas pertencem a um grupo que necessita dar exemplo e, portanto, não pode sonegar impostos”, explica o consultor financeiro Marcelo Claudino.
Dentro desse universo, uma das situações colocadas em pauta são os direitos de imagem dos jogadores. Em agosto do ano passado, a presidente afastada Dilma Rousseff publicou a Medida Provisória (MP) 690, que elevaria o imposto pago sobre direitos de imagem a partir de 2016.
A medida tinha como objetivo arrecadar algo em torno R$ 615 milhões no ano. No entanto, no apagar das luzes, esta decisão caiu junto com o ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy.
“Era uma forma de o governo pressionar os clubes a trabalhar no regime CLT, ou seja, repassando todos os vencimentos em carteira e evitando maneiras de o lucro dos direitos de imagem escaparem da criteriosa análise da Receita”, analisa Marcelo Claudino.
A matemática do valor é a seguinte: são cobrados 15% de Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), um adicional de até 10%, mais 9% de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido e 3,65% de PIS/Cofins. No total, o imposto devido corresponde a 14,5% dos valores arrecadado por meio de direitos de imagem. (JP)
Imóveis ainda são os preferidos
A crise financeira fez muitos atletas darem uma “freada” nos gastos, mas alguns investimentos comprovam a preferência quase absoluta pelo mercado imobiliário.
“Eu prefiro capitalizar meu rendimento investindo em imóveis. A situação do país deixa a gente meio receoso com o mercado, mas quase sempre esta é uma opção mais segura”, analisa o zagueiro cruzeirense Léo.
Segmento que também atrai a atenção do técnico celeste Marcelo Mendez. “Vejo os imóveis como uma garantia mais segura de se conseguir um lucro futuro”, analisa o treinador multicampeão com o Sada Cruzeiro.
Decisão que, segundo especialistas, é a mais acertada, pelo menos do ponto de vista momentâneo. “O mercado imobiliário é o campeão de escolha. É um risco mais baixo, mas, na economia existem ciclos, e é sempre bom ficar atento a estas oscilações”, avalia o consultor Marcelo Claudino. “Finanças são uma situação muito comportamental. Todos os seres humanos querem ganhar o máximo possível sem correr nenhum risco”, finaliza. (JP)
Rápida evolução financeira pode ‘deslumbrar’ familiares
Boa parte do êxito econômico do atleta se deve a uma boa educação financeira, mas nem sempre é possível exigir isso de jovens que atingem o estrelato da noite para o dia. É nesse ponto que a família tem papel fundamental, tanto para o bem quanto para o mal.
“Eles (jogadores) têm um evolução financeira muito rápida e tudo está relacionado a essa questão familiar. Todo o universo do atleta se altera”, comenta Marcelo Claudino, presidente da empresa de consultoria financeira TopSoccer.
“Às vezes, é muito complicado lidar com todo o mecanismo que cerca esses atletas. O sucesso ou a queda depende muito do amadurecimento desse profissional. E, algumas vezes, a família pode atrapalhar na tomada de decisões”, explica o educador financeiro. (JP)
Saldo do cerco
R$ 381 mi valor arrecadado pela Receita em tributos e multas a atletas
229 atletas profissionais foram autuados entre 2013 e 2015
FONTE: https://www.otempo.com.br/superfc/cruzeiro/crise-muda-filosofia-do-atleta-1.1314228